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“Diálogos pela Equidade na Educação: contribuições da pesquisa aplicada” reúne cerca de 300 pessoas em São Paulo

“Todos nós temos o sonho de ver a educação do Brasil em outro patamar, com qualidade e equidade para todas(os)”. Foi com esta frase que Eduardo Marino, gestor de Conhecimento Aplicado do Centro Lemann, abriu o evento “Diálogos pela Equidade na Educação: contribuições da pesquisa aplicada”, na sede do Insper, em São Paulo, no dia 22 de agosto.

A iniciativa, realizada pela Fundação Lemann, em parceria com o Centro Lemann e Neri – Núcleo de Estudos Raciais do Insper, reuniu cerca de 300 pessoas, que lotaram o anfiteatro e duas salas da universidade no bairro do Itaim Bibi, para debater como potencializar a inserção da equidade na agenda da pesquisa aplicada, com foco na Educação Básica.

“Tivemos a divulgação dos dados do Ideb, que mostram as médias para saber onde a aprendizagem evoluiu ou não. Essas médias respondem a alguns tipos de perguntas, mas a outras não, como a da garantia da equidade. Temos essa dificuldade de colocar a equidade no centro. Olhar só para o Ideb não nos dá a visão de como estão as desigualdades”, ressaltou Daniel De Bonis, diretor de conhecimento, dados e pesquisa da Fundação Lemann, em sua fala de abertura.

Para Anna Penido, diretora-executiva do Centro Lemann, a pesquisa aplicada tem papel essencial para a coleta de dados e evidências que desenhem o cenário das desigualdades. “Quando a gente mostra dados com recortes de desigualdades, as(os) prefeitas(os) se assustam, porque nunca foram apresentadas(os) a esse tipo de informação. Precisamos de mais dados que evidenciem as desigualdades, mas também que apresentem soluções para a tomada de decisão. Apoiar a pesquisa aplicada é essencial para que seus resultados possam orientar a tomada de decisão”.

Painéis temáticos e de pesquisas

O primeiro painel temático do evento discutiu os “Desafios para promover equidade na educação por meio da pesquisa aplicada”. Sonya Douglass, professora e pesquisadora do Teachers College, na Universidade de Columbia, chamou a atenção para a importância de um  currículo que não deixe de lado o ensino da história e cultura afro-americana nas escolas: “Estamos lidando com líderes políticos que proíbem livros e o ensino da nossa história. Não podemos deixar que eles determinem as informações que nossos filhos têm acesso. Temos que dialogar para garantir que os representantes que escolhemos lutem pelas causas que nos preocupamos e pelos nossos valores, que inclui o acesso à educação para nossas crianças”.

Michael França, coordenador do Núcleo de Estudos Raciais do Insper – Neri, destacou que “a educação é importante para enfrentar as desigualdades, mas não se pode jogar tudo nela. Com a pesquisa aplicada, podemos ter um entendimento das variáveis que afetam a equidade e desenvolver políticas públicas que respondam a esses desafios com intervenções mais robustas, a partir de projetos pilotos”.

Martin Carnoy, economista e professor da Universidade de Stanford, trouxe dados que afirmam que o gasto por aluno e o investimento na formação de docentes aumentaram na América Latina nas últimas décadas, mas que o Brasil piorou na desigualdade. “Há seis países com um aumento considerável no Pisa (Programa Internacional de Avaliação de Estudantes): Brasil, México, Argentina, Chile, Peru e Uruguai. Os investimentos fizeram com que os resultados melhorassem como um todo, porém, no Brasil, observou-se um aumento da desigualdade quando comparamos o desempenho de crianças mais privilegiadas em relação às de baixa renda. Reduzir as desigualdades nas escolas significa moldar os sistemas educacionais. É preciso um esforço coordenado para isso, que só é possível com as condições políticas corretas. Políticas de tributação e investimentos públicos podem apoiar a redução de desigualdades”.

Na segunda parte do evento, o painel “Pesquisas aplicadas em equidade na Educação Básica” distribuiu o público em três salas simultâneas, em que pesquisadores de diferentes instituições do País e do exterior lançaram 18 pesquisas. Cada sala contou com uma(um) mediadora(or) para discutir pesquisa aplicada em torno de três temas: “Gestão de redes municipais de educação e territórios”; “Dados e indicadores educacionais”; e “Gestão pedagógica e ambientes educacionais”.

Entre as pesquisas inéditas apresentadas, destaca-se o estudo “Gestão das redes de ensino e clima escolar: mapeamento das ações e uma proposta de matriz avaliativa sensível à equidade”, desenvolvido pelo Núcleo de Pesquisa em Desigualdades Escolares da Universidade Federal de Minas Gerais (Nupede/UFMG), uma das seis pesquisas que foram fomentadas pelo Centro Lemann.

O trabalho concluiu que 45,7% das secretarias estaduais e municipais de educação avaliadas no País estão “parcialmente estruturadas” para gerir o clima e a convivência no ambiente escolar, e possuem algumas iniciativas voltadas para questões como violência, bullying e racismo, mas ainda não estão no nível máximo (“muito estruturado”) – patamar atingido por apenas oito redes (4,1%). 17,3% delas (34 secretarias), estão em um grupo intermediário, classificado como “estruturado”. O trabalho avaliou 196 secretarias de educação nas cinco regiões do Brasil.

Tarde com especialistas de diferentes áreas do conhecimento

Após o almoço, no painel “Pesquisa, educação integral e desigualdades”, o economista Ricardo Paes de Barros, do Insper, trouxe uma importante provocação sobre educação integral e desigualdades: “A educação integral reduz a desigualdade, aumenta a escolaridade e garante maior melhora no desempenho para a(o) estudante que sabe menos. Se estamos preocupados com a desigualdade, melhor começar debaixo para cima, com as escolas que têm pior desempenho e partir, depois, para aquelas com melhor desempenho”, indicando onde a pesquisa aplicada pode ser mais eficaz.

Roberta Biondi, do Laboratório de Estudos e Pesquisas em Economia Social da FEA-RP/USP – Lepes, concordou com Paes de Barros: “É preciso pensar em uma política estruturada e são as pesquisas que vão embasar as políticas públicas. Talvez o Ceará tenha reduzido a desigualdade por ter começado com as escolas que tinham maior desigualdade”.

“Parcerias para fomentar pesquisa aplicada e promover equidade: cenário e oportunidades” foi o tema do quarto painel do dia, em que Kátia Schweickardt, secretária de Educação Básica no MEC, defendeu que o Brasil precisa medir o combate à desigualdade. “Nossa grande chaga é que nos organizamos enquanto país como uma sociedade racista. É preciso criar um indicador de equidade, que faça as escolas terem um avanço nos próximos anos”.

Para Iara Rolnik, diretora de programas no Instituto Ibirapitanga, “a maioria das lideranças de pesquisa para a equidade racial são brancas. A filantropia precisa centralizar o apoio institucional nos grupos de pesquisa para equidade racial. Esse é o primeiro tema a sofrer com as marés de retrocessos”.

O último diálogo do evento trouxe o tema “Dados e indicadores para promover equidade”. José Francisco Soares, professor emérito da UFMG, afirmou que raça e gênero não são suficientes no Brasil para um retrato das escolas, por isso, é necessário incluir o viés socioeconômico e, também, reforçou: “Se não há aprendizado, não há direito. É preciso colocar a desigualdade no indicador e no centro do debate. Os mesmos números que geram o Ideb como estão hoje, podem gerar outros dados”.

Guilherme Lichand, de Stanford, ressaltou que pesquisas censitárias nacionais podem ter um avanço rápido e efetivo ao reconhecer melhor seus estudantes e se aproximar do chão da escola. De acordo com o pesquisador, isso se dá devido à coleta de grandes dados, como o Censo Escolar, serem feitas a partir de heteroidentificação, com pouca consulta ao aluno em relação à sua raça ou possibilidade de apresentar deficiência ou transtorno educacional. 

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