Convidamos Rodrigo Mendes, integrante do nosso Comitê de Especialistas e fundador do Instituto Rodrigo Mendes, organização que desenvolve programas de educação inclusiva, para compartilhar conosco alguns componentes-chave de um processo pedagógico que leve em conta a inclusão de todas e cada uma das pessoas envolvidas.
No artigo “Planejamento apurado e tecnologias digitais: aliados decisivos da inclusão escolar”, Rodrigo explica o que é o Desenho Universal para a Aprendizagem (DUA), um modelo que surgiu em 1990 e tem como objetivo apoiar educadores no atendimento a perfis diversos de estudantes, em um mesmo ambiente de ensino, sem abrir mão do compromisso de cultivar altas expectativas em relação à aprendizagem de cada um e cada uma.
Confira o artigo completo abaixo e vamos, juntas e juntos, promover e fomentar a educação inclusiva em todo o país.
Planejamento apurado e tecnologias digitais: aliados decisivos da inclusão escolar
Rodrigo Mendes
Nos anos 1990, um grupo de professores da Universidade de Harvard, liderado por David Rose, engajou-se na busca por uma abordagem pedagógica que respondesse às demandas resultantes de salas de aula cada vez mais heterogêneas. Esse amplo esforço culminou na criação do Desenho Universal para a Aprendizagem (DUA), modelo que tem como objetivo apoiar educadores sobre como atender perfis diversos de estudantes, em um mesmo ambiente de ensino, sem abrir mão do compromisso de perseguir altas expectativas para cada um.
Traduzindo em miúdos, o DUA baseia-se na adoção de um planejamento pedagógico orientado pelas diferenças existentes na sala de aula e no uso extensivo de tecnologias digitais. Sua lógica conceitual foi construída a partir de extensas pesquisas da neurociência sobre o processo de aprendizagem. Tais estudos comprovam a percepção de que a ideia do “aluno regular” — no sentido de um aluno que aprende de acordo com padrões pré-estabelecidos — é fantasiosa. O que se observa é uma infinita variedade de processos particulares a cada pessoa, quase como uma impressão digital.
Apesar dessa inexistência de padrões, podemos perceber que a aprendizagem contempla três redes cerebrais: uma de reconhecimento — especializada em receber e analisar informações, ideias e conceitos —, outra rede responsável por planejar, executar e monitorar ações, e uma terceira, denominada afetiva, que desempenha o papel de avaliar padrões, estabelecer significância emocional a eles e eleger prioridades. Vale mencionar que essas redes dialogam com os pré-requisitos para a aprendizagem descritos pelo psicólogo Lev Vygotsky, grande influenciador da educação contemporânea, que salientava a importância de três pressupostos: o reconhecimento da informação a ser aprendida, a aplicação de estratégias para processar essa informação e o engajamento com a tarefa de aprendizagem.
Considerando as redes mencionadas, o DUA sugere que o planejamento pedagógico incorpore a diversificação de três componentes-chave do processo: a apresentação dos conteúdos curriculares, a mediação da aprendizagem e o envolvimento dos alunos. Em outras palavras, propõe que os educadores adotem múltiplos formatos de materiais didáticos, estratégias pedagógicas e inter-relações entre o conteúdo e a vida real do estudante.
As mídias digitais exercem um papel fundamental para quem pretende trabalhar a partir do DUA. Sua flexibilidade abre possibilidades para diversos percursos de aprendizagem, na medida em que viabilizam variadas combinações entre texto, fala, imagem, além da ressignificação do erro, que pode passar a ser entendido como parte natural do processo de aprendizagem. Os smartphones, tablets, notebooks e livros digitais são exemplos desse tipo de tecnologia, capaz de ampliar substancialmente os horizontes de desenvolvimento de cada aluno.
Cabe citar que o Instituto Rodrigo Mendes e o Instituto Unibanco produziram, recentemente, uma pesquisa sobre o panorama atual de tecnologias digitais que favorecem a inclusão escolar de estudantes com deficiência. O estudo apresenta dados sobre publicações acadêmicas, exemplos de produtos desenvolvidos por big techs e casos de instituições que já estão explorando esses recursos em suas rotinas.
Atualmente, mais de 70% dos docentes do Brasil manifestam ter dificuldades em atender estudantes com deficiência em ambientes inclusivos. Diante desse cenário, o Desenho Universal para a Aprendizagem representa uma poderosa ferramenta para viabilizar o acesso de todos ao conhecimento. No final do dia, contribui para a melhoria da qualidade da educação de todo aluno e torna factível nossa missão de não deixar ninguém para trás.
Rodrigo Hübner Mendes é fundador do Instituto Rodrigo Mendes, organização que desenvolve programas de educação inclusiva. É mestre em administração pela Fundação Getúlio Vargas (EAESP), membro do Young Global Leaders (Fórum Econômico Mundial) e Empreendedor Social Ashoka.
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